Heroína, vestida de vestido
“Eu visto pessoas que têm sonhos, eu contribuo com os sonhos que acreditam nas pessoas”, proclama o curitibano Alexandre Linhares diante de sua coleção de inverno 2011, exposta na loja-ateliê Heroína. E nesse sonhar, os vestidos são predominantes. (Para o contista Dalton Trevisan, essa é uma peça feminina erótica por excelência. Afinal, geme ele em seu livro Nem te conto, João: “Erguer o vestido, ó que delícia, no tempo do vestido (…) Ai, que coisa boa. Mulher de vestido”).
Assim como o escritor é lacônico ao compor a idéia, Alexandre Linhares é discreto: não faz decotes nem fendas para erotizar a mulher. Nem usa seda ou cetim, tecidos nobres e com certo de apelo sensual pelo toque suave. Seu gosto é pelos volumes, por decotes assimétricos, pela modelagem que deixa o corpo soltinho embaixo do vestido e pelas prosaicas malhas. No recém-realizado Noiva Sul, inclusive, ele propôs dois vestidos de noiva de malha, um deles de malha mescla.
A coleção de inverno foi batizada por “sem título, ° 1 ou autocura”, nada menos erótico ou menos fashion que isso. Mas, para ele, é de alta significância para o que se propõe: “Meu fazer moda tem aplicação do fazer artístico. Continuo fazendo esculturas em malha, me usando de pintura (com pincel, espátula, com as mãos), desenhos nas peças, interferências com spray e o meu característico tingimento artesanal”.
Assim, lá vai Heroína para o ateliê de Guita Soifer, dona de um ” trabalho tão plural e tão rico de conteúdo, de imagens, de significados que não poderia haver ambiente mais próprio para retratar minhas peças”. Ali, Gio, neta da artista, produz as fotos do catálogo. Esse encontro teve início quando Gio Soifer viu o desfile da marca no Paraná Business Collection. E ficou entusiasmada. Como Guita Soifer está trabalhando também com peças de cerâmica e vidro para colares, o ateliê surgiu como cenário natural para a nova coleção de Alexandre. Além das bijus-arte da artista, a modelo Livia Deschermayer, maquiada por Thifany F., usa bracelete de chifre de Rodrigo Alarcón.
Quanto à autocura, o estilista explica: “A palavra designa o ato de curar-se apenas com recursos internos do indivíduo, sem médicos nem remédios. Penso assim sobre meu próprio processo: uso modos de fazer roupa que eu mesmo desenvolvi, cores e formas que me agradam, sem me importar com ‘que se usa’ ou com o que ‘está em alta’. A inspiração vem realmente de dentro, tudo é baseado em sentimentos, verdades, técnicas – próprios”.
E quanto ao uso da malha, “vou com ela até onde ela me permite ir. Não sei exatamente o porquê dessa predileção, só sei que acredito nela como material nobre e ela acredita em mim como escultor”. Sim, na marca Heroína se verá flores moldadas na molenga malha, que Alexandre pinta e borda, dando mais estrutura e cores diferenciadas, como se fosse uma tela à espera do pintor.
Prossegue: “Vejo na malha a delicadeza da mulher, fina, macia, maleável, confortável, e também acredito que, assim como a mulher pode ir aonde ela quiser ir, defendo que a malha também pode assumir a posição que ela desejar”. (Se a mulher se sente confortável, pondera uma cliente, a sensação de prazer flui naturalmente).
Nem te conto, querido Dalton, viu que coisa boa? Os vestidos vão além da imaginação.
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