domingo, 25 de março de 2012

à margem e à sombra - Heroína - outono 012

à margem e à sombra, heroína – outono 2012

Quando eu falo de sombras, não me refiro ao lado sem luz. Lá é breu e sombras estão intensamente ligadas à claridade. À sombra, florescem vidas delicadas e sem espinhos, frescas em composição - e orquídeas precisam de um ambiente assim.
Na minha jornada incansável à procura do que me surpreenda e que possa cobrir lacunas ainda com frestas no meu interior, me deparei com uma miragem. À margem direita do trilho do trem, habitam pessoas inocentes em si e sombreadas por uma sociedade que a muito não vê além do quadro da alienação. Ilhadas nelas mesmas, estão expostas ao nada e corrompidas pela inocência de uma locomotiva ligeira e breve, que venta em meia dúzia de camisetas no varal. Eu cheguei até lá e são essas pessoas que me inspiram nessa coleção.

“à margem e à sombra” tem foco nas mangas – deliciosa sombra da mangueira, manga doce; manga que escorre pelas mangas... “arregaça essa manga menino!.. não, não limpa o nariz na manga!”.

É a primeira vez desde “heroínas aladas” de 2009, que não apresentamos um trabalho essencialmente produzido com moulage. A coleção carrega apenas uma peça nessa técnica, utilizada com o intuito de melhorar seu caimento. Se até agora as peças expressavam referências do fazer artístico, em “à margem e à sombra” elas são em si objetos de arte.

Um outro detalhe de “à margem e à sombra” que merece destaque, são peças oxidadas, submetidas à ferrugem, colhida em tampos no chão, no centro da cidade.

“à margem e à sombra”, estrelando Lívia Deschermayer com beleza de Thifany F. e fotos de Gio Soifer. Produção e estilo: Alexandre Linhares












































Quando eu falo de sombras, não me refiro àqueles do lado sem luz. Lá é breu – e não sombras. A luz direta produz sombras e na etiqueta da seda diz: “secar à sombra”.
A orquídea verde e selvagem, se em luz direta não floresceria. Nem sobreviveria.
O delicado precisa da penumbra, igual ao Ney num submundo cultural, mais o Raul, na verve curitibana do teatro experimental. Os das sombras são sutis. O sol direto sempre desbotou a cortina de veludo alemão azul turquesa da minha sala de estar e nesse sol, nunca se cumpriram histórias de amor. No sol só conta coisa de desejo, de carnaval num outro lado do Brasil que ela nem gosta de falar, mas eu sei, pq me contaram, sobre o que acontecia na sombra do pinheiro no drive-in da av. com nome estranho que a mãe dela foi algumas vezes. E das cores que não desbotavam.
O ninho com os 3 ovos azuis que eu vi não estavam no cume, estavam por baixo da samambaia, em vaso de xaxim.
Lembrei da cortina de novo. Ela era uma intensa sombra que cobria o cômodo alaranjado onde sonhava a menina que ainda não era mulher.
A sombra dele pode ter o tamanho que ele quiser que ela tenha e isso depende de quão baixo o sol estiver, quão mais perto das 6.
O fato do meu trabalho se materializar na roupa é um mero acaso.









vídeo conceito da coleção "à margem e à sombra" outono 012 da Heroína - Alexandre Linhares.
Estrelando: Lívia Deschermayer, com beleza de Thifany F. e fotos de Gio Soifer. Imagens de Gio Soifer e Alexandre Linhares. Musica: César Munhoz. Edição: Alexandre Linhares

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