à margem e à sombra,
heroína – outono 2012
Quando eu falo de sombras, não me refiro ao lado sem luz. Lá
é breu e sombras estão intensamente ligadas à claridade. À sombra, florescem
vidas delicadas e sem espinhos, frescas em composição - e orquídeas precisam de
um ambiente assim.
Na minha jornada incansável à procura do que me surpreenda e
que possa cobrir lacunas ainda com frestas no meu interior, me deparei com uma
miragem. À margem direita do trilho do trem, habitam pessoas inocentes em si e
sombreadas por uma sociedade que a muito não vê além do quadro da alienação. Ilhadas
nelas mesmas, estão expostas ao nada e corrompidas pela inocência de uma
locomotiva ligeira e breve, que venta em meia dúzia de camisetas no varal. Eu
cheguei até lá e são essas pessoas que me inspiram nessa coleção.
“à margem e à sombra” tem foco nas mangas – deliciosa sombra
da mangueira, manga doce; manga que escorre pelas mangas... “arregaça essa
manga menino!.. não, não limpa o nariz na manga!”.
É a primeira vez desde “heroínas aladas” de 2009, que não
apresentamos um trabalho essencialmente produzido com moulage. A coleção
carrega apenas uma peça nessa técnica, utilizada com o intuito de melhorar seu
caimento. Se até agora as peças expressavam referências do fazer artístico, em
“à margem e à sombra” elas são em si objetos de arte.
Um outro detalhe de “à margem e à sombra” que merece
destaque, são peças oxidadas, submetidas à ferrugem, colhida em tampos no chão,
no centro da cidade.
“à margem e à
sombra”, estrelando Lívia Deschermayer com beleza de Thifany F. e fotos de Gio
Soifer. Produção e estilo: Alexandre Linhares
Quando eu falo de sombras, não me refiro àqueles do lado sem
luz. Lá é breu – e não sombras. A luz direta produz sombras e na etiqueta da
seda diz: “secar à sombra”.
A orquídea verde e selvagem, se em luz direta não
floresceria. Nem sobreviveria.
O delicado precisa da penumbra, igual ao Ney num submundo
cultural, mais o Raul, na verve curitibana do teatro experimental. Os das
sombras são sutis. O sol direto sempre desbotou a cortina de veludo alemão azul
turquesa da minha sala de estar e nesse sol, nunca se cumpriram histórias de
amor. No sol só conta coisa de desejo, de carnaval num outro lado do Brasil que
ela nem gosta de falar, mas eu sei, pq me contaram, sobre o que acontecia na
sombra do pinheiro no drive-in da av. com nome estranho que a mãe dela foi algumas
vezes. E das cores que não desbotavam.
O ninho com os 3 ovos azuis que eu vi não estavam no cume,
estavam por baixo da samambaia, em vaso de xaxim.
Lembrei da cortina de novo. Ela era uma intensa sombra que
cobria o cômodo alaranjado onde sonhava a menina que ainda não era mulher.
A sombra dele pode ter o tamanho que ele quiser que ela
tenha e isso depende de quão baixo o sol estiver, quão mais perto das 6.
O fato do meu trabalho se materializar na roupa é um mero
acaso.
vídeo conceito da coleção "à margem e à sombra" outono 012 da Heroína - Alexandre Linhares.
Estrelando: Lívia Deschermayer, com beleza de Thifany F. e fotos de Gio Soifer. Imagens de Gio Soifer e Alexandre Linhares. Musica: César Munhoz. Edição: Alexandre Linhares
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