Matéria escrita pela Nereide Michel para o blog Plantão de Estilo, da Gazeta do Povo de hoje.
Para ver a publicação original, acesse:
O preto e o branco e... cores!
Uma surpresa cinematográfica da temporada Oscar 2012 resgata memórias de um período em que o cinema ainda não era Technicolor.
Uma época em que a fotografia ainda não havia capturado todos os tons
da natureza. O que viria a seguir, graças aos avanços da Kodak e seu
Kodachrome.
Quem viveu naquele tempo, vai lembrar. Quem não viveu, pode conhecer.
Vencedor
de cinco Oscars, O Artista, dirigido por Michel Hazanavicius, em
exibição nas salas de espetáculo da atualidade, reproduz nos detalhes –
em preto e branco e sem palavras – a ansiedade gerada, entre os astros
da Sétima Arte, pela inevitável chegada do cinema falado.
Os
primeiros registros da moda no século XX foram feitos prescindindo das
cores. Sem dispor em suas máquinas de uma paleta, que lhes
possibilitasse reproduzir com fidelidade as criações de Dior ou Chanel,
os fotógrafos traduziam no preto e branco, e suas nuances, o que estava
diante dos seus olhos.
Divulgação
Foto de Edward Steichen, um dos profissionais mais bem pagos na década de 20.
Pioneiros ou fotógrafos mais próximos de nós – Edward
Steichen, Richard Avedon, Irving Penn, Cecil Beaton, Otto Stupakoff,
entre outros – eternizaram no papel, silhuetas, tecidos e “cores”
trabalhando expressivamente retratos em preto e branco.
Cineastas
iconográficos, como o austríaco Fritz Lang e o britânico Alfred
Hitchcock, também valorizaram os jogos de luz e sombra para conferir
dramaticidade, emoção e suspense aos tramas projetados na tela.
Envolvidos na linguagem específica dos claros e escuros, os cenários
ganhavam no enredo a mesma importância dos personagens.Neles, residia o
impacto que estes cineastas desejavam conferir a determinadas e
decisivas cenas nos chamados filmes noir.
Depois vieram as
cores, mas o retrato em preto em branco jamais perdeu o poder de
magnetizar e de seduzir a platéia ao assumir força de expressão de
sentimentos diante de olhos acostumados à onipresença do arco-íris.
Gio Soifer
Outono 2012, de Alexandre Linhares, "à margem e à sombra".
O universo das imagens – fotos e filmes – faz parte do
processo criativo do estilista curitibano Alexandre Linhares. A
dramaticidade e o impacto emocional são motores que impulsionam os seus
movimentos no manejo de agulhas e tecidos.
O preto e o branco,
como os de um filme mudo, falam nas suas tramas. Das cores, contudo, ele
não foge, muito pelo contrário, ganham presença expressiva no enredo
que cada uma de suas coleções conta.
Gio Soifer
O vermelho, forte e expressivo, abriga no Outono 2012, de Alexandre Linhares.
Para Alexandre Linhares, as roupas não são apenas
produtos na arara – são resultado de um projeto que envolve foto, filme,
trilha sonora – tal qual uma fita que se assiste em grandes e pequenas
telas. A proposta é muito clara, cada lançamento seu transforma em
personagens-cúmplices uma “platéia” magnetizada pelas suas criações.
Gio Soifer
À margem dos trilhos, à sombra dos mangueirais. Outono 2012, de Alexandre Linhares.
"Estrelas" e "astros" se integram à sua obra completa –
roupa, foto, filme, trilha sonora – e agem com igual dramaticidade assim
que se deparam com a sua imagem refletida num espelho/tela – vestindo
Heroína, a grife de Alexandre Linhares. A silhueta ganha simbiose “à
margem e à sombra” – tema da coleção Heroína/ outono 2012 – perfeita com
a roupa...
Ou com o enredo assinado por Alexandre Linhares, com
fotos de Gio Soifer, filme com trilha sonora de César Munhoz, estrelado
por Lívia Deschermeyer e com maquiagem de Thifany F.
PALAVRAS DE ALEXANDRE
(sobre o seu Outono 2012)
(sobre o seu Outono 2012)
Gio Soifer
Alexandre Linhares, Outono 2012.
“Quando eu falo de sombras, não me refiro ao lado sem
luz. Lá é breu e sombras estão intensamente ligadas à claridade. À
sombra, florescem vidas delicadas e sem espinhos, frescas em composição -
e orquídeas precisam de um ambiente assim.
Na minha jornada incansável à procura do que me surpreenda e que possa cobrir lacunas ainda com frestas no meu interior, me deparei com uma miragem. À margem direita do trilho do trem, habitam pessoas inocentes em si e sombreadas por uma sociedade que a muito não vê além do quadro da alienação. Ilhadas nelas mesmas, estão expostas ao nada e corrompidas pela inocência de uma locomotiva ligeira e breve que venta em meia dúzia de camisetas no varal. Eu cheguei até lá e são essas pessoas que me inspiram nessa coleção.
“à margem e à sombra” tem foco nas mangas – deliciosa sombra da mangueira, manga doce; manga que escorre pelas mangas... “arregaça essa manga menino!.. não, não limpa o nariz na manga!”.
Na minha jornada incansável à procura do que me surpreenda e que possa cobrir lacunas ainda com frestas no meu interior, me deparei com uma miragem. À margem direita do trilho do trem, habitam pessoas inocentes em si e sombreadas por uma sociedade que a muito não vê além do quadro da alienação. Ilhadas nelas mesmas, estão expostas ao nada e corrompidas pela inocência de uma locomotiva ligeira e breve que venta em meia dúzia de camisetas no varal. Eu cheguei até lá e são essas pessoas que me inspiram nessa coleção.
“à margem e à sombra” tem foco nas mangas – deliciosa sombra da mangueira, manga doce; manga que escorre pelas mangas... “arregaça essa manga menino!.. não, não limpa o nariz na manga!”.
INFORMAÇÕES EXTRAS
Gio Soifer
Ferrugem dos tampos marcados pelo tempo impressa na peça de Alexandre Linhares.
- Para Alexandre Linhares caminhar pela cidade é mais
que ir de um lado para outro. Seus olhos insistem em descobrir o além da
paisagem. Na coleção “à margem e à sombra”, estão peças oxidadas,
submetidas à ferrugem, colhida de tampos no chão, no centro curitibano.
-
Falando em temporada de lançamento: mudança no calendário da moda
brasileira. A São Paulo Fashion Week Verão 2012/2013 transferiu para
junho a sua realização – de 11 a 16. -Minas Trend Preview/ Verão 2012/13 acontece de 25 a 29 de abril.
-Paraná Business Collectionq Verão 2012/13, de 26 a 30 de junho.
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